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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

10- Manifestações Extra-Intestinais

Sejam Bem-vindos!

O post de hoje é para abordar um tema que intriga a maioria dos pacientes. Aproximadamente metade de todos os pacientes com doença de Crohn desenvolve sintomas relativamente leves.

No entanto, outros podem sofrer de dor abdominal (cólica) importante, diarréia com ou sem presença de sangue, náuseas e febre. Os sintomas da doença tendem a surgir e desaparecer. No intervalo entre as crises, os pacientes tendem a não apresentar sintomas. Esses períodos livres de doença podem durar de meses a anos, embora os sintomas eventualmente retornem.

Além dos sintomas relacionados ao trato gastrintestinal, alguns pacientes com doença de Crohn podem apresentar manifestações relacionadas a outras regiões do corpo. Em algumas pessoas, elas podem ser os primeiros sinais da doença, aparecendo mesmo antes do surgimento dos sintomas gastrintestinais. Vamos citar as mais comuns.


MANIFESTAÇÕES ARTICULARES

Artrites – A doença de Crohn pode acometer o aparelho locomotor e envolver predominantemente as articulações dos joelhos e tornozelos. Esta artrite, como é chamada, provoca muita dor – é como se um osso estivesse fraturado e fosse necessário engessar. Na maior parte das vezes, as artrites são migratórias e podem ocorrer em 15% a 20% dos casos.

Espondilite anquilosante – Muita gente se queixa de dores na coluna. As explicações para elas são quase sempre as mesmas: carregar peso em excesso, dar um mau jeito, dormir numa má posição e por aí vai. Nos pacientes de DII, entretanto, a coluna e as articulações sacroilíacas podem ser agredidas em 5% dos casos, podendo evoluir para uma espondilite anquilosante, a tal da dor nas costas. E isso independe do controle da doença intestinal. Na verdade, essa manifestação articular pode preceder os sintomas intestinais. O tratamento medicamentoso dessas artropatias consiste em antiinflamatórios não hormonais, sulfassalazina e, às vezes, infiltrações articulares.


MANIFESTAÇÕES DERMATOLÓGICAS

Pioderma gangrenoso – Começa com uma feridinha, que geralmente fica vermelha ao seu redor, e vai crescendo. As pessoas até chegam a pensar que se trata de um processo de herpes e acabam procurando um farmacêutico para indicar uma pomada. Isto é o que não deve acontecer. Essa lesão de pele, que pode atingir pessoas de qualquer sexo e idade, pode ser uma manifestação de Crohn ou Colite – e pode acontecer antes mesmo que a pessoa saiba que tem a doença. O certo, nesse caso, é procurar um dermatologista para tratar. O pioderma gangrenoso só pode ser curado com corticóides em altas doses.

Eritema nodoso – Esta é uma lesão na pele que é dolorosa e é mais freqüente nas mulheres que têm Crohn, sobretudo naquelas que tomam pílula anticoncepcional. O eritema também atinge mais os membros inferiores do paciente. O paciente deve usar antitérmico para uma febre ocasional e fazer repouso. Esta lesão tampouco deixa seqüelas.

Em cerca de 20% dos casos as conseqüências do Crohn e da Colite podem aparecer em outras partes do corpo: aftas na boca, inflamação na pálpebra e manchas vermelhas na pele são algumas outras manifestações extra-intestinais na pele.


MANIFESTAÇÕES OCULARES

Uveíte — Parece uma conjuntivite, desse tipo contagioso, que passa de uma pessoa para outra após o contágio, mas pode ser uma manifestação extra-intestinal. O olho fica vermelho e pode provocar dor, lacrimejamento excessivo e sensibilidade à luz.

Episclerite – Esta inflamação ocorre no tecido que cobre a esclera (a parte branca do olho) ou a pálpebra. Ocasionalmente, pode haver também um nódulo branco que muitas vezes se confunde com um tersol.

Tanto a uveíte quanto a episclerite atingem aproximadamente apenas 8% a 10% dos pacientes de DII. É importante que os pacientes que têm esses problemas façam uma consulta em um oftalmologista de três a quatro vezes ao ano.


MANIFESTAÇÃO HEPÁTICA

Existem vários problemas relacionados com o fígado e os ductos biliares na DII. O fígado pode desenvolver uma inflamação ativa, que habitualmente regride com o tratamento apropriado da doença. Os ductos biliares podem, embora raramente, desenvolver uma forma particular de inflamação chamada de colangite esclerosante, que pode não melhorar com o tratamento clínico comum.


MANIFESTAÇÕES ÓSSEAS

Osteoporose - Alguns pacientes desenvolvem a osteoporose ao longo do tempo, mas essa manifestação é vinculada ao uso prolongado de corticóides, e não à doença em si.


Outras manifestações existem mas citamos apenas as mais comuns, relatadas na literatura científica, na internet e na fala de vários pacientes. Quanto às fístulas, falaremos delas em outra oportunidade, por ser um assunto extenso e mais complexo.

Bjim!


sábado, 23 de fevereiro de 2008

9- Pesquisa Genética


Oi, gente!

Venho mais uma vez contar com o apoio de vocês para uma questão muito séria. Na última reunião do GADII (em BH/MG), contamos com a presença de 2 Biólogos, doutorandos em Genética, que estão desenvolvendo um projeto na UFMG, contando com o apoio do Instituto Hermes Pardini. Irei transcrever, na íntegra, a explicação dada por eles durante a reunião.

É um assunto de grande relevância, que com certeza ajudará nos diagnósticos (tão difíceis das DII). Gostaria muito da colaboração de todos!


"Projeto de pesquisa

Determinação e identificação de predisposição genética a doença celíaca, doença de Crohn e colite ulcerativa em indivíduos com quadro de desnutrição crônica.

A doença de Crohn e colite ulcerativa são doenças que afetam o trato gastrointestinal e que causam um quadro de diarréia com conseqüente desnutrição crônica. Em algumas situações, o diagnóstico diferencial entre estas doenças torna-se difícil pois elas possuem vários sintomas em comum. Por possuírem um caráter genético, este trabalho tem como objetivos:
  • identificar genes que possam influenciar no desenvolvimento da doença
  • auxiliar no diagnóstico diferencial destas.
A pesquisa trata-se de um projeto de doutorado desenvolvido no Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, contando com o apoio do Instituto Hermes Pardini. Todo o material biológico, após a extração de DNA, será descartado segundo normas da Vigilância Sanitária.

Por se tratar de um projeto de pesquisa, não se pode afirmar que haja vantagem direta para cada participante, uma vez que já estão diagnosticados. No entanto, a pesquisa da predisposição genética a estas doenças pode ser de grande valor para os familiares em 1° grau dos pacientes, permitindo a possibilidade de tomar medidas preventivas mais direcionadas.

Fica garantido a todos o sigilo sobre os dados clínicos e laboratoriais, e a proteção de sua identidade em caso de publicação na imprensa científica. Não recairá sobre os participantes da pesquisa nenhum ônus ou despesa financeira. O resultado dos testes será encaminhado a cada participante, mantendo o sigilo deste.

Para participarem do projeto, é necessário coletar uma amostra de sangue total em EDTA ou 2 swabs bucais (procedimento indolor), após assinar o termo de consentimento. A coleta poderá ser feita em unidades do Instituto Hermes Pardini. A participação também está aberta aos parentes de 1° grau (pais, filhos e irmãos) dos pacientes.

Quem tiver interesse ou quiser esclarecer dúvidas, favor, entrar em contato, antecipadamente à coleta, com Vanessa Oliveira pelo email: dna9@labhpardini.com.br ou telefones (31) 3228-6517 ou 3228-6524."



É isso, gente...

A Dra. Vanessa também me disse que para pessoas que moram fora de BH, quando elas entrarem em contato, verão onde pode ser feita a coleta. Inclusive já temos pessoas do RJ e de Salvador que mandaram um e-mail para ela e conseguiram uma filial do Instituto por lá também. (isso graças à propaganda que também colocamos em comunidades sobre DII no orkut)

O termo de consentimento e a ficha de indentificação estão nas unidades para preenchimento em Belo Horizonte. Para pacientes fora de BH, é preciso imprimir, preencher e levar no momento da coleta.

Quem quiser os dois documentos pode me pedir por comentário aqui do blog ou por e-mail, ok? (lecavc@gmail.com).

É um trabalho importante, que visa tratamentos melhores futuramente. Acho que é nosso dever colaborar.

O Swab é uma escovinha que o pessoal do laboratório vai passar internamente na sua bochecha, ou seja, é completamente indolor. Não custa!

Vamos fazer nossa parte!

Conto com vocês!!!

Bjim

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

8- Colonoscopia

Existem vários exames para a confirmação da DII e também para o acompanhamento da doença. Para controle, os mais comuns, além dos exames de sangue, são o Trânsito Intestinal (ou Morfologia do Delgado) e a Colonoscopia. Como me pediram para falar um pouco mais sobre a colonoscopia, criei esse post para detalhar um pouco mais sobre o procedimento, pois várias pessoas se sentem inseguras em relação a ele, mas é um exame simples e tranquilo. A parte mais "chata" é seu preparo.

Quem já foi em um(a) coloproctologista já deve ter feito o exame retossigmoidoscopia, aquele em que você fica literalmente "de quatro" e o médico introduz um aparelho pelo ânus. Pois bem, é parecido com a colonoscopia, só que o aparelho só consegue chegar até uma parte do cólon descendente.


A colonoscopia é um procedimento comum e muito seguro para examinar a região do intestino grosso. Colonoscopia significa “olhar dentro do cólon”. Permite que o médico examine as paredes do cólon (intestino grosso) através de um aparelho, o colonoscópio, que consiste em um tubo flexível de aproximadamente um dedo de espessura, com uma micro câmera e uma luz para examinar cuidadosamente o trato intestinal. O colonoscópio fica conectado a um monitor de televisão que permite ao médico visualizar as imagens do cólon. Diversas ferramentas pequenas podem ser inseridas através do colonoscópio para o médico obter amostras e biópsias do cólon e, também, realizar uma quantidade de manobras que o auxiliam no diagnóstico.

Para tanto é fundamental que o intestino grosso esteja muito bem limpo para que o exame seja satisfatório. O preparo é muito simples e é realizado através de medicações laxativas para limpeza do cólon, e de uma dieta adequada na véspera do exame. Este preparo é importante, pois irá permitir ao gastroenterologista uma visão mais clara e precisa durante o exame. Lembre-se de beber muita água nesta fase, para repor os líquidos que seu intestino deve perder.

Se você precisa tomar medicamentos já receitados, o faça somente com água. Produtos à base de aspirina (AAS, ácido acetilsalicílico) e preparações que contenham ferro devem ser suspensos dois dias antes do exame.


Você deitará confortavelmente sobre seu lado esquerdo e receberá soro e uma solução sedativa, pela veia, para seu relaxamento. O médico, então, passará o aparelho através do ânus para o reto e posteriormente por todo o cólon. Você poderá sentir alguma cólica e sensação de estufamento, pois é necessário manobrar o aparelho e colocar ar no intestino para permitir o exame de suas paredes. Essas sensações são normais e passam rapidamente. Às vezes, são necessárias trocas de posição durante o exame, para facilitá-lo. Se necessário, pequenas amostras de tecido (biópsias) serão retiradas para análise. Não se preocupe, pois isso é totalmente indolor.

O tempo de duração do exame pode variar entre 15 e 20 inutos e até 50 minutos, dependendo do grau de dificuldade para introduzir o aparelho até o início do cólon e de eventuais procedimentos que se fizerem necessários (por exemplo, retirada de pólipos).

Após o exame o paciente permanecerá na área de repouso até que os efeitos dos medicamentos desapareçam. Cólicas leves, estufamento e desconforto no abdomen poderão ocorrer devido à presença de ar no intestino, aliviando após sua liberação.

Em virtude do uso de medicação sedativa, você não poderá dirigir automóveis, operar maquinaria ou tomar decisões importantes pelo resto do dia. Mesmo que você se sinta normal, é sabido que a sedação diminui os reflexos e o julgamento por várias horas. Por esse motivo, venha acompanhado para o exame por alguém capaz de levá-lo para casa.

Se você quiser saber mais sobre algum exame, deixe sua sugestão nos comentários, ok? Abaixo deixo um vídeo de uma parte de uma colonoscopia, para quem tiver interesse.

Bjim!


sábado, 16 de fevereiro de 2008

7- Medicamentos


Olá!!!

Bom, ainda seguindo sugestão do pessoal que me manda e-mails, postarei sobre a medicação da Doença de Crohn, que não é muito diferente da medicação da RCU. Vocês já devem entender um pouco mais sobre as duas doenças e, por isso, perceberão agora que a medicação também depende do local onde a doença está agindo.

Alguns medicamentos só fazem efeito se for para "atacar" a doença no intestino grosso, outros no delgado. Algumas pessoas acham estranho ter a mesma doença e tomar medicamentos e dosagens diferentes. Eis o motivo.


Então... as DII possuem medicamentos divididos nos seguintes grupos:

AMINOSSALICILATOS

Sulfasalazina - Foi o primeiro medicamento com propriedades antiinflamatórias a ser utilizado no tratamento da doença de Crohn. Ela está indicada no tratamento das formas leves e moderadas da inflamação, particularmente aquelas que envolvem algum segmento do cólon. Estima-se que cerca de 20% dos doentes não conseguirão manter-se em tratamento com sulfasalazina, por alguma reação à droga, provavelmente relacionada com o componente sulfamidico. Seu efeito máximo de ação é esperado em torno da 3ª a 4ª semana.

Mesalazina (Ácido 5-aminosalicílico) - É considerado o verdadeiro componente antiinflamatório da molécula de sulfasalazina. Inicialmente indicado como alternativa medicamentosa, tem tido a preferência dos especialistas em todo o mundo, por ser tão eficaz quanto a sulfasalazina no controle da atividade inflamatória de formas leves e moderadas da DC, com menores efeitos secundários. A mesalazina é encontrada no Brasil nas formas de cápsulas e supositórios. Fiquem atentos ao seguinte: existem mesalazinas de 400mg e de 500mg. Se seu médico receitou de 400mg, não aceite a de 500mg e vice-versa. Pode ter certeza que fará diferença.


CORTICÓIDES

São utilizados no tratamento das agudizações manifestas em qualquer segmento do trato gastrointestinal. Não são eficazes na manutenção das remissões nem no tratamento de fístulas. Em uma revisão sistemática recente, a budesonida foi 13% menos eficaz que os corticóides convencionais na indução de remissão e foi inefetiva na manutenção de remissões. Existem várias marcas de corticóides no mercado. Os pacientes reclamam que o corticóide engorda e faz "estragos" no organismo, coisa até que podemos postar a respeito mais à frente. Mas lembrem-se que quando a crise é brava, apenas o corticóide tem esse "poder" de brecar a doença subitamente. Portanto devemos atentar para a questão do custo/benefício, certo?


IMUNOSSUPRESSORES

6 mercaptopurina (6-MP) e Azatioprina (AZA) - Os dados dessas duas medicações são analisados em conjunto, pois a azatioprina é convertida de maneira não enzimática a 6-mercaptopurina, e não há estudo mostrando superioridade entre elas. Podem ser utilizadas na manutenção de recorrências clínicas e cirúrgicas e no tratamento de fístulas. Tipicamente possuem um período de latência para o início do efeito, que situa-se em torno de 4 meses de uso continuado.

Ciclosporina - age inibindo a produção das interleucinas 2,3 e 4, fator de necrose tumoral alfa e interferon gama, pode ser útil em pacientes com doença inflamatória grave ou com fístulas.

Methotrexate - mostrou eficácia no tratamento das agudizações e na manutenção dos pacientes que entraram em remissão após o seu uso. Também tem sido usado no tratamento de fístulas.


ANTIBIÓTICOS

Metronidazol - Foi o primeiro antibiótico utilizado na doença de Crohn. Indicado não só para o controle da atividade inflamatória, como para a tentativa do fechamento de fístulas, especialmente as perianais e perineais. Também impede o "ataque" de fungos/bactérias nas fístulas expostas.

Ciprofloxacina / Claritromicina - Constituem boas opções, como alternativa, no tratamento da atividade inflamatória da DC.


ANTICORPO MONOCLONAL

Infliximab (Remicade®) - Esta substância preparada com parte de soros humanos e parte de animais, vem sendo a grande esperança do tratamento de formas complicada da doença de Crohn, principalmente quando acompanhadas de fístulas. Além de comprometer o desenvolvimento do evento inflamatório, anteriormente à sua instalação, tem, a seu favor, a grande comodidade de sua aplicação. Embora exija a via venosa, portanto de ambiente hospitalar, seu efeito pode durar semanas, sem a necessidade absoluta da utilização de outros medicamentos. Praticamente isento de efeitos colaterais importantes, náusea, fadiga, febre baixa e dor abdominal, este produto, quimérico, misto de humano e animal, pode ser aplicado em intervalos de 8 semanas, ou menos, como nos casos de fístulas.



Salientamos que citamos o nome genérico dos medicamentos. Os nomes comerciais são vários e não temos aqui a pretensão de favorecer nenhum laboratório específico. TODOS os pacientes de DII têm direito a esses medicamentos gratuitamente. Os dados referentes à medicação foram retirados do site do Ministério da Saúde:

http://dtr2001.saude.gov.br/sas/dsra/protocolos/do_d10_00.htm

Lá vocês encontrarão também os detalhes para participarem da distribuição gratuita desses medicamentos.

Até a próxima!


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

6- Doença Inflamatória Intestinal (DII)

Oi, gente!

É engraçado... o pessoal quase não posta comentários, mas me enviam e-mails dando a maior força e comentando algo sobre a última postagem. Agradeço a todos de coração. Como recebi alguns e-mails com a mesma solicitação, resolvi criar esse post para explicar melhor o que vem a ser as DII e a diferença entre a Doença de Crohn e a RCU. Então vamos lá!

A Doença Inflamatória Intestinal, ou DII, é um termo geral usado para um grupo de doenças inflamatórias crônicas de causa desconhecida envolvendo o trato gastrointestinal. As Doenças Inflamatórias Intestinais podem ser divididas em dois grupos principais: a Retocolite Ulcerativa (RCU) e a Doença de Crohn (DC). Estas doenças, apesar de distintas em alguns aspectos clínicos, endoscópicos e radiológicos, são estudadas concomitantemente juntas por apresentam algumas características genéticas, epidemiológicas e imunológicas semelhantes e principalmente, por apresentarem em comum um processo inflamatório crônico intestinal.

Contudo, apesar de estudadas em um mesmo capítulo, a RCU e a DC têm diferenças importantes na sua forma de apresentação. Estas diferenças se iniciam pelo comprometimento difuso da DC, podendo acometer todo o trato digestivo, da boca até o ânus, enquanto que a RCU limita-se ao intestino grosso (cólons). Vejam novamente a anatomia:

Na doença de Crohn a inflamação é transmural, ou seja, pode acometer todas as camadas da parede intestinal e, o comprometimento é descontínuo (vários segmentos, áreas sem alterações entremeadas à áreas comprometidas). Nesta doença, são comuns úlceras lineares confluentes, profundas, fístulas e estenoses.

Na RCU, a inflamação é delimitada à mucosa e submucosa do intestino grosso e o comprometimento é contínuo, iniciando-se pela parte distal do reto. Não são freqüentes a presença de estenoses e fístulas. Pode coexistir a formação de pseudopólipos, que consistem em afloramentos de tecido de granulação que surge entre as áreas de inflamação. É freqüente a presença de abscessos de cripta, e, praticamente não se encontram granulomas focais.

Na DC a dor abdominal é mais frequente e se localiza em região periumbilical (ao redor do umbigo) e fossa ilíaca direita (nosso lado direito, abaixo da barriga) pois, o principal local de acometimento é a região íleo-cecal. Na RCU a dor é menos intensa e frequentemente se localiza nos flancos e fossa ilíaca esquerda. O sangramento retal é bem mais comum na RCU, encontrado na DC quando haja comprometimento importante do cólon.

Sintomas gerais como mal estar, febre, perda ponderal e anorexia são mais evidentes na DC do que na RCUI. Diarréia crônica, líquida, sem sangue ou pus constitui um dos sintomas que levam o médico a pensar no diagnóstico de DC.

A presença de fístulas perianais, enterocutâneas ou entero-entéricas também devem suscitar diagnóstico de DC, sendo raras na RCU. Quadros suboclusivos são mais frequentes na DC e o megacólon tóxico mais comum na RCU. Sintomas retais como puxo, tenesmo e urgência fecal são mais evidentes na RCU.

Endoscopicamente, também existem algumas peculiaridades inerentes a cada uma, apesar de algumas vezes, o diagnóstico diferencial apresentar-se difícil. Na DC, o comprometimento retal é incomum, as lesões colônicas quando existentes, se apresentam sob a forma de úlceras denominadas aftóides, que são úlceras rasas, esbranquiçadas, de margens elevadas (como se fossem aftas).

Estas diferenças auxiliam fortemente no diagnóstico diferencial entre a RCUI e DC. Contudo, em uma percentagem de 5-10%, apesar da tentativa de se diferenciar clínica, endoscópica e histopatologicamente, não se consegue diferenciar entre DC e RCUI, principalmente quando o comprometimento é exclusivo do cólon. Denomina-se para estes casos colite indeterminada .

Resumo:



segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

5- Alimentação


Esse é um item bastante controverso para os pacientes de DII, pois o que se pode e o que não se pode comer é muito relativo.

Os médicos e nutricionistas são unânimes em afirmar que a alimentação não provoca as crises nem tira o paciente delas - mas pode, sim, piorar a situação. E acho que nenhum paciente quer isso.

Mas então... o que podemos comer?

A avaliação e a orientação nutricional devem ser feitas individualmente, pois cada organismo funciona de uma maneira. O que faz bem para um paciente pode fazer mal para outro. Essa orientação é importante porque devemos comer sem culpa. Então vamos fazer algumas considerações baseadas nas evidências alimentares:

Durante a crise: a dieta adequada deve ser mantida para que o paciente possa repor suas necessidades calóricas e protéicas e dessa forma controlar a perda de peso e as complicações dos sintomas. Às vezes nem sentimos vontade realmente de comer, em parte pelo desânimo e mal estar, em parte pelo medo de que a situação piore.

Mas já que precisamos comer, é bom cortar qualquer alimento que forme resíduos, como por exemplo leite e derivados, verduras, frutas e legumes ricos em fibras, condimentados e embutidos. Os alimentos devem ser de fácil digestão, como os cozidos e com pouca gordura. Em uma crise aguda, batata cozida e macarrão são ótimas fontes de carboidratos e açúcar e digerem rapidinho. Outra dica é o ômega 3, encontrado em peixes de águas geladas profundas ou na forma de suplementos, pois ele pode ajudar a reduzir a inflamação.

A alimentação completa é essencial para a recuperação do paciente, mas devemos esperar o momento certo para voltar a ela. Com desnutrição e anemia a coisa pode ficar realmente feia.


Fora da crise: é permitido comer quase de tudo. Mas é sempre bom evitar frituras, gorduras e condimentos, independente de se estar ou não em crise. A boa notícia é que não é preciso se privar para sempre de coisas gostosas como pizza, batata frita e doces. Se forem cometidos só de vez em quando, esses "pecados" não chegam a levar ninguém para o inferno.



Algumas Dicas


Anemia: consumir uma fonte rica em proteína em cada uma de suas refeições diárias (frango, carne, ovo, queijo e leite sem lactose). Veja alguns conselhos práticos:

  • comer fígado uma vez por semana
  • comer espinafre
  • tomar sopa de feijão
  • usar panela de ferro para preparar a comida (essa é ótima)
  • ingerir com a comida um copo se suco de laranja, limão, maracujá ou tangerina, porque a vitamina C ajuda o organismo a absorver melhor a proteína dos alimentos
  • fracionar a alimentação a cada três horas para não haver longos períodos sem ingestão de comida

Lactose: é um açúcar encontrado no leite que necessita da ação de uma enzima chamada lactase para ser absorvida pelo intestino. Na presença de DII pode haver uma deficiência de lactase na mucosa do intestino, o que dificulta sua absorção, provocando dores e diarréia. Cada pessoa apresenta um grau de tolerância à ingestão de lactose - uns podem consumi-la normalmente e outros não podem chegar nem perto. Quando o paciente tem esse problema deve prestar atenção aos rótulos dos alimentos industrializados.

Probióticos: pesquisas feitas recentemente mostram os benefícios do uso dos probióticos (microorganismos vivos que ajudam no trabalho da flora intestinal) no controle das Doenças Inflamatórias Intestinais. Os probióticos não servem para o tratamento das doenças. Eles são utilizados apenas na fase de remissão.

É isso, gente! A maioria das informações desse post foram retiradas de uma matéria da revista FOCO da ABCD, nº 09/2002 (http://www.abcd.org.br)


sábado, 9 de fevereiro de 2008

4- Emocional

Oi, queridos!

Como prometi, neste post falarei da questão do lado emocional.

Vários pacientes alegam ter passado por momentos difíceis emocionalmente quando a doença apareceu. Alguns poucos dizem não ter visto relação alguma. E a ciência até hoje desconhece a causa.

O que sabemos é que o estresse emocional tem a capacidade de ativar a doença novamente. Os relatos são bem conclusivos. Mas pacientes ainda ficam na dúvida: "será que meu emocional desencadeou o Crohn, ou foi o Crohn quem desencadeou meu emocional?"

Uma questão interessante e importante a ser abordada é que a maior parte das pessoas acha que quando se refere a fator emocional, subtende-se um abalo íntimo causado por diversos fatores como: a perda de alguém querido, o rompimento de uma relação, o desemprego inesperado, uma briga com alguém que se gosta, uma doença grave na família, etc. Mas existem pessoas que não gostam e/ou não conseguem se expor diantes de uma situação estressante, independente do grau de estresse. E aí elas vão acumulando dentro de si algumas mágoas, algumas questões pendentes, chateações e aborrecimentos, entre outros. Cada um dos problemas vividos ficou latente dentro da pessoa. Até que de repente explodem!

Uma vez ouvi um psiquiatra dizendo que o corpo responde ao desequilíbrio emocional de 3 formas diferentes: pelos poros (pele), através de alergias e dermatites; pelo pulmão, através de bronquites, asmas, etc; e pelo intestino. São as 3 vias de eliminação que possuímos.

O mais engraçado é que tive uma dermatite forte em 1999 em que meu corpo inteiro ficou recoberto de pústulas e coçava por inteiro. Chegava a abrir em feridas em alguns locais, principalmente atrás dos joelhos e na virilha. E da mesma forma que apareceu, também sumiu, após 1 ano. Pouquíssimo tempo depois as diarréias começaram.


Não posso dizer que, na época, tive um abalo emocional forte, que fizesse meu corpo desequilibrar a ponto de reagir dessa forma agressiva, mas posso afirmar que durante minha vida sempre fui guardando as coisas que me chateavam. Como dizem popularmente, engolia sapos. Mas eram sapos vivos, que ficavam latejando dentro de mim e eu não conseguia vomitá-los.

Após o surgimento do Crohn em minha vida fiz 3 tentativas de acompanhamento psicológico. O primeiro foi terrível, pois o profissional que busquei nem nunca tinha ouvido falar de Doença de Crohn e não demonstrou interesse nenhum em saber algo mais sobre ela. Achei errado me tratar dessa forma e só fiz 3 sessões. O segundo foi ótimo. Um rapaz formado a pouco, cujo pai era médico e tratava pacientes de DII, famoso inclusive. Ele conhecia a doença, se ofereceu a ajudar o GADII (conto mais à frente para vocês o que é o GADII detalhadamente) e ofereceu descontos para os associados. Tratei com ele por 3 meses e precisei parar. O terceiro fui apenas em uma consulta, porque não tive condições de pagar o tratamento e meu convênio não cobre.

Mas uma coisa é certa: o tratamento da doença com acompanhamento de uma terapia só tende a favorecer. Quem acredita nisso e arrisca consegue notar a diferença em pouco tempo. E quem não arrisca não pode opinar...rs

Agora, sessão-conselho: (até parece que tenho moral prá isso) Tentem ocupar um pouco do tempo com alguma atividade que trabalhe com o corpo e/ou a mente. Acupuntura, reflexologia, cinesiologia, terapia, academia, trabalhos manuais, livros. Façam um Blog!!! Vocês verão que qualquer uma dessas opções, dentre outras, será de extrema utilidade a fim de "aliviar" um pouco a mente e liberar a energia negativa que circula pelo nosso corpo.

Todos nós devíamos, pelo menos, experimentar!

Se cuidem!

Bjim.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

3- Primeiros Medicamentos

(Vaso ideal para pacientes de DII)


No período da minha primeira colonoscopia (abril/2000), minhas idas ao banheiro contavam em torno de 10 a 15 vezes. O que acontecia é que sentia cólicas fortes e sensação de que, caso não fosse ao banheiro evacuar, as fezes sairiam onde eu estivesse. Mas não evacuava muito, apenas o suficiente para que a cólica me desse mais um tempo de respirar.

Foi nessa época que aprendi algo com minha Anja (minha médica) que continua valendo até hoje: não usar papel higiênico. Imaginem a minha situação indo até 15 vezes ao banheiro para evacuar. Me desculpem, mas ânus nenhum aguenta. Fui orientada por ela a usar a ducha higiênica sempre. Nada de passar papel lá. E ele agradeceu, acreditem!

Outra coisa é não ficar muito tempo sentado no vaso, apenas o necessário, pois força a musculatura anal e com isso, favorece a formação de hemorróidas.

Com a colonoscopia consegui meu diagnóstico definitivo. Confesso que fiquei aliviada... não por estar com o Crohn, mas de saber enfim o que era. Dos relatos que já ouvi até hoje (e foram muitos), a maioria dos portadores de Crohn e RCU dizem a mesma coisa sobre o diagnóstico definitivo: a demora. A gente (e os médicos, claro) sabendo do que se trata, fica mais fácil cuidar do tratamento.

E comecei com uma dosagem de 2 comprimidos de sulfassalazina de 500mg, de 8/8 horas (anti-inflamatório para o cólon). Ela também prescreveu Profenid de 12/12 horas (anti-inflamatório, sedativo e antidepressivo) e orientou quanto à dieta alimentar. Entrei numa fase de testes, para saber o que me fazia mal. Deixava de comer algo por 15 dias seguidos e observava se fazia diferença. Fiz o teste com leite e derivados, feijão, chocolate (sou chocólatra!!!!) e condimentos. Claro que separadamente. A cada 15 dias trocava.

Com o tempo entendi que o feijão me dava flatulências, mas fazia falta porque tenho tendência a ficar anêmica. Já o leite e seus derivados não fizeram diferença a não ser pelos flatos (gases) também. Adorei isso porque tomo 2 copos de leite por dia e sempre como queijos. O que realmente me fez mal foram os condimentos, desses hoje nem chego perto (embutidos e enlatados também)! O chocolate diminui bastante, mas não deixei de comê-los.

Mas tinha algo que realmente me fazia mal... e esse eu não queria largar de jeito nenhum. Era o cigarro! Era nele que descarregava meu emocional. Por falar em emocional, falarei sobre ele no próximo post (número 4). E no número 5 conversaremos melhor sobre alimentação, ok?

Obrigada pelo apoio que recebi de vocês nos comentários. Continuem participando prá que a gente possa introduzir de uma maneira geral os temas aqui e logo depois falarmos do nosso dia-a-dia.

Bjim a todos!

Obs.: olhem como eu queria que meu banheiro fosse na época das 15 evacuações por dia:


quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

2- O Começo


Nessa data em que escrevo tenho 38 anos. Descobri que tinha Doença de Crohn no final do ano 2000, mas os primeiros sintomas apareceram uns 6 meses antes. Comecei com cólicas seguidas de evacuações. E eram constantes...

No começo ia ao banheiro para evacuar umas 4 vezes ao dia. Marquei consulta mas pelo plano de saúde que eu tinha na época, só consegui para 1 mês depois. Logo na primeira me mandou fazer exames de sangue... voltei com o resultado. Como não havia nada conclusivo, pediu um exame chamado "enema opaco". Hoje já fiz muitos exames e posso dizer que esse foi o pior de todos!

No resultado também não havia muito coisa clara, fui fazer uma tomografia abdominal. Também nada. Passei para um outro gastroenterologista. Nada!

Fui em outro, que me pediu um exame chamado "trânsito do delgado". Esse exame sugeriu uma doença inflamatória. Esse médico então disse que seria melhor eu visitar um coloproctologista. Marquei, mas já tinham se passado 4 meses e minhas evacuações agora eram em torno de 8 a 10 vezes por dia!

Na consulta, a procto me explicou tudo detalhadamente, de cada exame que já tinha feito. E me pediu mais um para confirmar a doença e ela mesma faria em mim no hospital. Nunca antes havia sido tratada por um profissional da saúde com tanto zelo. Considero essa médica como uma anja que Deus me enviou.

Acho que todos os pacientes de Crohn (ou Retocolite) tiveram dificuldades quanto ao diagnóstico. Os sintomas sugerem várias enfermidades e os exames não afirmam nem apontam para uma doença específica. Existe a necessidade de exclusão pelos exames e análise minuciosa do exame físico e da anamnese.

A imagem acima é da minha primeira colonoscopia. É um exame importante e necessário para quem tem DII que consiste em um tubo flexível com uma câmera na extremidade, e que é inserido pelo ânus até o começo do íleo (intestino delgado). Com ele vê-se todo o trajeto do intestino percorrido. É o exame de controle indicado para quem tem retocolite e crohn, além do trânsito intestinal, que identifica fístulas e estenoses.

Ao longo do blog vamos esclarecendo alguns detalhes. Por isso é importante a sua participação deixando comentários e questões pertinentes a serem tratadas aqui.

Abraços a todos!

sábado, 2 de fevereiro de 2008

1- Definição da Doença de Crohn



Olá a todos!

A inauguração desse blog será explicando a vocês o que é a Doença de Crohn, numa linguagem fácil e acessível.

É uma Doença Inflamatória Intestinal (DII) crônica. A palavra "crônica' indica que se trata de uma enfermidade de longa duração, mas no caso do Crohn ainda não se conhece a cura. Essa inflamação pode afetar qualquer parte do trato gastrointestinal, ou seja, da boca até o ânus.

É uma doença auto-imune: agressão do organismo contra elementos normais, através dos anticorpos (células de defesa). Uma proteína normal do corpo, por exemplo, é reconhecida como estranha. O sistema imune então desencadeia uma inflamação, buscando eliminá-la. Com isso, esse mesmo sistema imune fica deficitário, a pessoa fica com uma imunidade baixa.

Existe outra DII chamada Retocolite Ulcerativa (RCU). As diferenças mais importantes entre ambas são:
  • A RCU ataca apenas o intestino grosso e o reto.
  • A inflamação da RCU acomete apenas a parte mais interna do intestino grosso (mucosa), enquanto que na Doença de Crohn todas as camadas dos intestinos podem ser afetadas.
Existem outras diferenças que iremos complementando ao longo das postagens. Abaixo uma imagem que descreve bem a anatomia funcional do aparelho digestivo: